Por Cristiano França
(Instagram: @cfeleito)
“E aos que predestinou, a estes também chamou…” (Romanos 8:30)
Quando a verdade vai contra as convicções de uma pessoa, seja qual for a área da vida em questão, o indivíduo, em geral, tem dois caminhos: mudar de opinião (o que em diversos aspectos denota inteligência) ou inventar a sua própria verdade, adaptando o fato àquilo que o seu ego aceita como “realidade”. Assim, muitas inverdades são vendidas como verdades absolutas e, infelizmente, acabam sendo compradas por muitos como se fossem indiscutivelmente reais.
No caso da relação do sistema religioso com a predestinação é exatamente isto que acontece. Afinal, sabemos que as doutrinas da eleição e soberania de Deus (que juntas redundam no entendimento geral da predestinação) são incontestavelmente bíblicas. Não há como negar que a predestinação ― não só a palavra, mas, principalmente, a ideia ― está visivelmente declarada na Palavra de Deus, ao contrário do suposto “livre-arbítrio” humano (como se nós pudéssemos escolher sermos filhos de Deus), que não encontra respaldo nos textos bíblicos ― sequer o Evangelho cita tal palavra.
O ego do ser humano não aceita que ele não tenha o “direito” de escolher se quer pertencer a Deus ou não. O homem quer o controle de tudo. Assim, o sistema religioso fomenta esta altivez da carne ao propagar a falsa doutrina do “livre-arbítrio” humano. Crer na livre escolha do homem em relação a Deus é o mesmo que acreditar que um vaso de barro possa escolher o seu formato, a sua cor, o seu uso e o local onde ele vai ornamentar. Isto seria um absurdo, pois o oleiro (quem cria os vasos) é quem define o destino e o uso de suas criações. Será que foi por acaso que o apóstolo Paulo usou justamente esta analogia dos vasos para ensinar sobre a eleição? (Romanos 9:14-23) Não obstante nós termos inteligência (ao contrário de um vaso de barro de verdade), a nossa perspicácia e nossas escolhas se resumem a esta vida terrena, nada tendo a ver, portanto, com o hipotético livre-arbítrio para escolhermos ― ou não ― o Altíssimo como nosso Pai (que, aliás, é o único que possui o arbítrio verdadeiramente livre). Ou seja, a fronteira de nosso arbítrio é a vontade Soberana daquele que nos criou e nos conduz.
Dentro do sistema religioso há, pelo menos, duas vertentes contrárias à concepção bíblica da predestinação: os que a negam veementemente (mesmo com todo o respaldo que esta doutrina apresenta) e aqueles que não a negam, mas querem adaptá-la à “verdade” deles (como comentei no início do texto). É deste segundo grupo que quero tratar aqui.
Como eu disse, esse segmento teológico não nega a existência da predestinação; porém, a interpretação que esse grupo dá à doutrina diz que ela é coletiva. Tal ideia, claro, é uma tentativa doentia de transformar a verdade de Deus em algo que se encaixa em suas próprias convicções. Este triste entendimento dá conta de que Deus não predestinou as pessoas individualmente, mas a coletividade, o grupo, no caso, a Igreja. Neste caso, qualquer um poderia participar deste grupo, bastando para isto “aceitar a Jesus”. Ou seja, segundo esta visão, qualquer indivíduo pode “se tornar” um predestinado por sua própria vontade e não pela vontade de Deus. Contudo, será que o apóstolo Paulo ― quem mais ensinou sobre predestinação ― pensava assim?
“…a fé não é de todos.” (2ª Tessalonicenses 3:2)
Como acabamos de constatar, Paulo não acreditava que qualquer um pudesse entrar no grupo dos predestinados. Segundo os ensinos do apóstolo da Graça, a fé pertence somente aos eleitos, àqueles que foram individualmente escolhidos por Deus.
O trato de Deus com Seu povo é individual, sempre foi. Não é por acaso que “…cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus.” (Romanos 14:12). Quando estivermos perante o Senhor para o recebimento do Galardão, vamos prestar contas individualmente e não de maneira coletiva. Outro exemplo: em tese, Deus predestinou os hebreus (o grupo todo) como sendo Seu povo, mas veja o que Paulo diz:
“…nem todos os que são de Israel são israelitas” (Romanos 9:6).
Isto é, não basta pertencer à coletividade do povo eleito (em nosso caso, pertencer à coletividade da Igreja); tem que ser verdadeiramente de Deus (escolhido desde antes da Criação, de maneira individual) para ser um predestinado verdadeiro. E isto, claro, depende de Deus e não da vontade humana (João 1:12-13; Romanos 9:16; Efésios 1:5).
O golpe mortal nesta ideia absurda de “predestinação coletiva” é o fato de Paulo usar o caso dos gêmeos (Jacó e Esaú) como exemplo de eleição individual: ambos nasceram do mesmo ventre, na mesma ocasião, mas Deus amou um (eleito) e o outro não (Romanos 9:11-14). Este é o maior exemplo do trato individual que Deus tem com Seu povo, especialmente na questão da filiação de Seus filhos.